segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os Silence 4 foram grandes e uma valente fonte de inspiração para nova musica nacional e de músicos nacionais, agora de inegável importância. Na altura foram uma surpresa, tendo alcançado a quintupla platina. Concorreram e ganharam, como outras grandes bandas nacionais, o Termómetro, e não há vivalma da minha geração que não os conheça. Ainda hoje, 9 anos depois da dispersão do grupo, se ouve música sua com o mesmo prazer e actualidade. A cada vez que passa nos rádios ou leitores musicais ganha mais uma catrafulhada de recordações para juntar ao já grande pacote existente.

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"És especial", disseram-me um destes dias. Numa situação normal sorria e agradecia com um sorriso leve mas desta vez foi dito com tal expressão que eu acreditei.

Goste-se ou não das curvas acentuadas da vida - nalgumas das quais se capota porque não contamos com o pavimento escorregadio ou porque vamos depressa demais - elas são também o momento de consolidação de mais um periodo. Acontece trazerem alguma surpresa, algo que vemos todos os dias mas que não tinhamos notado, como um senhor que dá cabeçadas numa bola no meio da rua enquanto os carros param nos semáforos, uma das 7 (ou 8, ou 9, ou 10) maravilhas do mundo que esteve tanto tempo à nossa frente, uma personagem alheia que pouco trouxe de cada vez mas de quem nos sentimos orgulhosos ou outra que arranjou maneira de vir morar na minha cabeça e adivinhar tudo o que digo antes de o dizer, que me fez partilhar o que conseguia e o que não conseguia e que preenche o dia-a-dia.

O problema das curvas apertadas é que há sempre coisas a deixar para trás, indiferenciadamente, seja a má disposição de uma cidade, a sua beleza ou aqueles amuletos com asas que voam pelo vidro. Ainda tenho uns dias até voltar mas já estou em perfeita contagem decrescente. Trouxe 30Kg para agora levar uma bagagem que excede o limite de peso de qualquer boing-747 e que só não levo na mão porque não me deixam levar mais que a guitarra. Os meninos da universidade vão para essa coisa do erasmus para aprenderem a cozinhar, a lavar a roupa, a pagar as contas e a embebedarem-se com bebidas estrangeiras. No entanto há os que vão "lá fora" mudar a sério, ainda que não se veja. Orgulho-me de cá estar, de me ter divertido mais que nunca e de todas as consequências que isto traga. Orgulho-me de ser da minoria, marginalmente suportável e, mais importante, orgulho-me de ser especial.